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sábado, 30 de junho de 2012

Entrevista a mim mesma.

Em Portugal ainda existe a ideia de que para se educar um cão é preciso “pulso firme” e ser um líder, é possível mudar mentalidades?
Em Portugal havia muito o hábito de ter um cão preso num quintal e sinceramente acho que antigamente um cão não tinha um papel tão presente na família. Esta herança cultural faz com que hoje em dia muita gente queira ter um cão robot, que acarreta as ordens por obcessão ao dono, um cão que é obrigado a ignorar os outros cães e que nem pode brincar com eles, etc.. Isto é, houve uma evolução: os cães já deixaram de estar presos num quintal mas apesar de hoje em dia já poderem fazer parte da família, não podem ser cães. No outro dia falava com um senhor que viveu nos EUA e ele contava-me a loucura que que os americanos têm pelos cães: os donos gastam fortunas com eles, não prescidem de lhes dar tudo do bom e do melhor, levam-nos a correr e a brincar, são considerados elementos da família e não um animal de estimação... outra mentalidade completamente diferente da da maioria dos portugueses.

No outro dia ouvi um comentário, enquanto uma treinadora estava a fazer uma demonstração de truques, assim: enquanto “senta” e “deita” estão a enchê-lo de comida…. O que vai na cabeça das pessoas para preferir dar puxões na trela ou bater em vez de dar recompensas a um cão?

Muita gente acha ridículo dar recompensas a um cão, lá está a mentalidade de que um cão tem que ser obediente ao dono só porque sim, porque é giro mostrar aos amigos que o cão venera o dono. Acho isto uma falta de humildade imensa, sinceramente, e aprendi isto à minha custa, o meu cão, quando veio cá para casa, não tinha qualquer ligação a mim e não era por sentir amor e afectos por parte da minha família que passou a ser obcecado por nós. As ligações entre cão e dono demoram a ser construídas, apesar de um cão ser um animal super agradecido ao ser humano (sabemos de casos em que apesar de o dono mal tratar o cão, este ainda é capaz de ir a correr ter com o dono com o rabo a abanar para receber festinhas) há cães super desconfiados com o ser humano. E no meu caso acho que demorou uns tempos para que houvesse uma relação de cumplicidade com o meu cão, aliás possivelmente só agora é que eu tenho pequenas demonstrações da parte do Janay de que até gosta de mim, como por exemplo este episídio que aconteceu ontem: ele ficou com o meu irmão em casa e quando eu cheguei estava à varanda e mal me viu começou a ganir e a correr ao ponto de eu o ouvir na rua, entro em casa e só oiço o meu irmão dizer "nem foi preciso ir à varanda para ver que eras tu, o Janay ficou doido".


Muita gente diz “aí do meu cão que me rosne, aí do meu cão que não deixe tirar a comida, aí do meu cão que não faça o que eu quero, …”. Porque é que as pessoas insistem em achar que o nosso cão tem que ser nosso súbdito em vez de nosso cooperante?

As pessoas baseam as suas relações à base do medo e para mim este tipo de educação só tem uma consequência: o cão desenvolve problemas comportamentais. Com o meu cão nunca foi a bater que tentei resolver os problemas de possissividade dele em relação aos objectos e comida, e isto comprovei em diversas ocasiões. Em relação à pergunta, no meu caso prefiro que o meu cão execute uma ordem por vontade do que por obrigação. Mas acho que isto tem a ver com o que desejamos para os nossos cães, eu desejo que o meu cão seja feliz em toda a sua plenitude, outras pessoas acharão que só porque dão comida e casa ao cão este é obrigado a ser feliz.


Muitos dos problemas comportamentais se desenvolvem devido à falta de estimulação mental em casa ou nos quintais. Qual a importância da estimulação mental?

Quando adoptei o meu cão não fazia ideia o que era um kong, muito menos tinha ouvido falar de que um cão precisava de estimulação mental, aliás, acho que nunca tinha pensado "um cão não se aborrece em casa enquanto os donos vão trabalhar?" ou "porque é que o cão destroí as coisas em casa?". E realmente faz todo o sentido a estimulação mental. No meu caso, em que tenho um cão que sofre de ansiedade de separação, houve uma grande melhoria no comportamento dele graças à estimulação mental que tem na minha ausência. Os kongs foram uma grande ajuda neste aspecto e hoje em dia não lhe dou a ração na tigela mas sim no kong wobbler, deixo-lhe biscoitos escondidos, kongs congelados, ... é preciso é imaginação e saber comprar os brinquedos certos. Não consigo que ele fique o dia inteiro com coisas para fazer mas pelo menos, no caso do meu cão, como a situação mais crítica é aquele primeiro tempo em que eu saio porta fora, pelo menos sei que com estes recursos ele vai estar entretido durante aquele tempo ao ponto de se distrair e não perceber que eu saí. 


O meu cão é agressivo com outros cães. O que fazer?

Primeiro que tudo não é a evitar o problema que o resolvemos, e falo por experiência própria que quando via um cão dava meia volta e mudava o meu caminho só para não me cruzar ele. Segundo não é dando puxões na trela que eles vão diminuir a agressividade, aliás isso só vai piorar. Neste caso acho que é importante forcarmo-nos no objectivo: pretendemos um cão que perante um cão não ladre, não rosne, não puxe a trela; solução: associarmos a presença dos outros cães a algo agradável. Portanto se dermos puxões na trela só vamos fazer com que o cão associe a presença de outros cães a uma consequência dolorosa, nada mais que isso. Ao usarmos o reforço positivo vamos estar a associar a presença de outros cães a recompensas. No entanto isto é complicado de encaixar na cabeça das pessoas, isto porque somos bombardeados com Cesar's Millan's que impingem esta ideia dos puxões na trela. E o que mais me irrita é que as pessoas não têm sentido crítico, basta assistirem a um episódio para adoptarem aquela portura e para achar que tudo faz sentido, é que nem põe em hipótese qual poderá ser a consequência de um treino daqueles.

2 comentários:

  1. Muito bom Sara ;)
    "As ligações entre cão e dono demoram a ser construídas" isto é o que custa mais entender. As relações, sejam elas quais forem não são tipo "puré instantaneo"... As pessoas estão tão habituadas à fast-food, às pipocas de microondas que se esquecem que criar uma relação demora tempo e dá trabalho.

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