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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O ensino do "não".

Quando adoptei o Janay foi-me ensinado a usar o "não" para corrigir comportamentos e admito que o usei durante algum tempo. A partir do momento em que comecei a aprender um pouco mais de comportamento e treino canino naturalmente o hábito de dizer "não" desapareceu.
E porque decidi falar do "não"? Porque oiço com muita frequência as pessoas afirmarem que o seu cão sabe o "senta", "deita" e o "não". Ora, se a palavra "não" chegasse para bloquear comportamentos indesejados não era preciso existirem treinadores comportamentalistas, ou vá, na melhor das hipóteses existiam para ensinar a dizer um "não" firme e seco, tal como me foi ensinado a mim.
A realidade é que sem eu perceber muito de aprendizagem e de comportamento canino basta-me ter um cão há um ano e meio para perceber que o ensino do "não" é uma utopia. Vou-vos dar um exemplo: o Janay sabe estar de pé e quando eu peço um "senta", ele senta, por outro lado, se estiver deitado e eu pedir um "senta" ele não senta. E porquê? Porque são dois comandos diferentes e eu ainda não ensinei o segundo, logo se para um cão passar de pé para um senta é assumido como comportamento A e se passar do deita para o senta é um comportamento B, como é que nós usando só uma palavra, neste caso um "não" conseguimos que um cão não faça X, Y, Z, etc..? Por outro lado, os cães precisam de generalização, isto é, pedir um "senta" em casa, não é a mesma coisa que pedir um "senta" no meio de um jardim com muitos cães, mais uma vez temos que ensinar o "senta" em duas circunstâncias: em casa e na rua.
Esta situação faz com que os donos repitam 194950 vezes que o seu cão não é obediente, eu corrijo: o seu cão ainda não aprendeu a ser obediente.
Vejamos este exemplo:
Situação A - Cão X senta-se ao pé do sofá -> o dono diz "não" -> o cão não sobe.
Situação B - Cão X senta-se ao lado do dono enquanto este está a almoçar -> o dono diz "não" -> o cão consegue meter as patas em cima da mesa.
O que falhou aqui? É tão simples quanto isto: o cão sabe que não pode subir para o sofá mas não sabe que não pode pôr as patas em cima da mesa, não é com um "não" que o cão vai perceber estes dois comportamentos tão diferentes e com reforços tão diferentes, pois na situação A o cão queria subir para o sofá para estar ao lado do dono e na situação B o cão queria pôr as patas em cima da mesa para cheirar e eventualmente roubar comida. Isto tudo para explicar que os cães precisam de aprender os comandos nas mais variadas situações, não basta usar o "não" para impedir que o cão faça asneiras.
Utilizar o "não" na relação dono/cão só seria útil se ambos falassem português e o cão soubesse o significado do "não" mas infelizmente isso não acontece.
O "não" é usado em treinos baseados no medo, o dono ao dizer o "não" limita-se a assustar o cão com toda a carga negativa que o próprio som provoca, isso não modifica comportamentos, não educa e nem torna um cão super obediente. Desde pequeninos que aprendemos a dizer "não", quando já somos adultos e temos um cão achamos que basta o "não" para os educar. Nada mais errado, um cão é muito mais complexo que isso :)

Sara

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