"Com 51 anos, Alexandra Santos não sabe ao certo quando chegou à conclusão de 
que podia treinar cães como se treina golfinhos, mas o facto é que acertou em 
cheio na profissão. E no método. «Comecei com 19 anos, em part time, quando 
levei o boxer que tinha na altura a uma escola. Passados uns meses, o treinador 
convidou-me para ser sua assistente.» A consultora de comportamento canino 
trabalha nesta área a tempo inteiro desde 2005. Aos 6 anos, os pais 
ofereceram-lhe o primeiro boxer, que preferia de longe às brincadeiras com os 
amigos. Mais tarde partiram para a África do Sul, ela cresceu, teve o segundo 
boxer e estreou-se a ensinar. «Apercebi-me de que não estava muito satisfeita 
com aquela metodologia, com as estranguladoras e os puxões de trela.» 
Questionava se as coisas não poderiam ser feitas de outra forma.
Regressou a Portugal com 27 anos e continuou o trabalho. Lia compulsivamente 
o que encontrava sobre o tema, ao mesmo tempo que procurava em fóruns 
internacionais cursos que a habilitassem a treinar cães. «Acabei credenciada 
pelo Animal Care College, no Reino Unido, e pelo Companion Animal Sciences 
Institute no Canadá, além de ser endossada pela Association of Animal Behavior 
Professionals.» Mais importante, encontrou o seu método de treino positivo, 
rejeitando a aplicação de castigos e meios causadores de medo, dor ou 
desconforto no animal. Hoje tem 27 domicílios como clientes nas zonas de Lisboa, 
Odivelas, Sintra e Cascais.
«Se é na rua que o cão salta para as pessoas, as aulas são na rua. Se é em 
casa que não deixa ninguém aproximar-se enquanto come, então é em casa que o 
treinamos.» A socializadora aponta como mais frequentes os problemas de 
agressividade com pessoas, com outros cães, a ansiedade por separação do dono, 
os medos e fobias, os animais que puxam ao andar à trela, que mordiscam, saltam 
e pedincham à mesa, que destroem objetos e fazem as necessidades no sítio 
errado. E se se trata de problemas agressivos, encaminha-os primeiro para o 
veterinário comportamentalista Gonçalo Pereira, que faz uma avaliação clínica do 
animal e assegura que ninguém tenha de passar pela situação que mais a marcou na 
vida: um cão que atacava sem avisar, e ao qual foi mais tarde diagnosticado um 
tumor incurável no cérebro. O animal teve de ser eutanasiado.
«Muitas vezes as pessoas partem do princípio de que a agressividade é 
comportamental, ligada à dominância, e esse é um paradigma que eu rejeito», 
informa Alexandra Santos, refutando igualmente a tese - por não ter base 
científica - de que os cães estabelecem hierarquia com os humanos. «Uma matilha 
forma-se entre membros da mesma espécie, não entre crocodilos e leões. Um cão 
sabe perfeitamente que eu não sou cão, não comunico como um cão, não cheiro a 
cão, não me comporto como um cão, não como comida de cão.» Para ela, o mito de o 
dono ter de ser o líder da matilha resulta em muitos castigos mal dados e num 
agravar da agressividade do animal, caso exista.
«O cão sobe para o sofá e tem comportamentos agressivos porque não quer que 
mais ninguém se sente ali, por exemplo: não existe aquela coisa de ele pensar 
que está a desafiar a autoridade do dono. Ele acha, sim, que o sofá é dele; e 
tem de aprender que não é dele, é meu.» Se o cão for pequeno, o dono facilmente 
o põe no chão. Se for grande e estiver a mostrar os dentes, ninguém deve tirá-lo 
à força e o cão aprende que rosnar funciona. «Não digo que temos de deixar em 
paz um cão de grande porte com tendências agressivas, pelo contrário: tem mesmo 
de ser educado. Mas a bem, porque agressividade gera agressividade.» A solução 
passará por dar a entender ao animal que ir para o chão é mais interessante do 
que ficar no sofá, e recompensar o cão quando desce. «A metodologia da força - e 
aqui não critico o Cesar Millan como pessoa, só o método que usa - não se 
justifica», defende a treinadora, alertando para o facto de o programa O 
Encantador de Cães poder induzir em erro: «Aquilo é editado. Independentemente 
da metodologia, nenhum cão fica treinado em dez minutos. As pessoas deixam-se 
deslumbrar e julgam que com dois esticões brutais na trela ele resolveu o 
problema, mas depois não têm conhecimento dos casos de donos que tentaram fazer 
o mesmo em casa e levaram uma dentada.»"
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário